20 de mai. de 2010

A praça que não é praça



Mudando de assunto, mas trocando seis por meia dúzia, continuo a falar de praças.
Desta vez de uma muito próxima e familiar, cá em Marechal Hermes – a praça XV de Novembro.
Não é a mesma que conheci quando nem lhe sabia o nome; aquela se formava por dois semicírculos separados pela Av. General Oswaldo Cordeiro de Farias; num dos semicírculos, um desses coretos do Rio Antigo, como os há ainda hoje em outras praças, que tão bem se harmonizava com a arquitetura do entorno e nos permitia supor – ao menos – um domingo com retreta e algodão doce.
A praça sofreu uma remodelação recente; e o verbo empregado não podia ser mais exato: sofreu!
Uniram-se as duas partes, e isto não foi mau, pois o trânsito passou a fluir em torno da nova praça a velocidade reduzida, sem necessidade de redutores no asfalto. Além disso, ou até mesmo por causa disso, o espaço assim integrado e amplo tornou-se mais seguro e apropriado à função que se imagina deve ter uma praça.
Mas o benefício termina aqui, para começar o sofrimento a que me reportei: demoliram e sumiram com o lindo coreto! Por que não o reconstruíram no centro da nova praça? Mesmo que não se façam mais retretas, havia de servir de palco a animadas fanfarras carnavalescas (como, aliás, vinha servindo), se para mais não servira...Por seu estilo e graça, a par de outros prédios, o coreto atestava a idade anciã do bairro, sua história, e evocava nostalgias de tempos de maior sossego e despreocupação. E sempre havia de ser um atrativo visual...
Outro equipamento que os projetistas deixaram de prover à praça: os bancos! E estes de inquestionável necessidade e pertinência. Onde já se viu uma praça sem bancos, mormente se se trata de praça no centro de um bairro residencial?
Não quero ser leviano ou maldizente, mas ouço dizer que tanto o coreto quanto os bancos foram excluídos do projeto (a pedido dos moradores?) por serem focos de atração de mendigos, moradores de rua, desocupados e outros produtos sociais rejeitados.
Então temos uma praça sem estes flagelos, mas também sem a vida que tal espaço costuma refletir como lugar de encontro, de convívio, de entretenimento, de estar e ficar: uma praça sem gente, sem povo. Não tem os velhinhos aposentados jogando cartas, não tem o avô com o netinho ou a mãe passeando o seu bebê ao cair da tarde; nem algazarra de crianças correndo; não tem arrufos de amor adolescente, não tem namorados, nem beijos e abraços, nem mãos se encontrando, nem choro nem riso...
Os bancos são o DNA das praças, que lhes geram vida própria.
Algumas instituições, escolas ou a prefeitura, eventualmente promovem alguma função em nossa praça, em geral aos sábados; fora disto é um espaço morto: as pessoas atravessam- na, não param, não ficam – pois não há bancos a convidar! De praça converteu-se em caminho, ou vários caminhos que se cruzam, cuja única utilidade, além da viária, é sofrear o ímpeto velocista dos motoristas que trafegam na avenida.
De vida e poesia restam apenas os pássaros, que têm as árvores como coretos, não obedecem aos desígnios dos projetistas nem precisam de bancos.
E os moradores de rua, e os mendigos, gente?! Miseráveis da sorte, despossuídos de tudo, não lhes deixam sequer os bancos da praça?!



Maio de 2010

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