30 de jan. de 2011

Uma voz na penumbra


Alguém me disse que sou um contador de histórias. Pois bem, já que é assim vou contar mais uma, esta captada da vida real.
Estava eu assistindo TV, após o almoço, quando um peão de obra, o Ricardo (estou reformando a minha casa), tendo já esvaziado sua marmita, bebia um copo d'água e olhava também o que passava na telinha. A reportagem era sobre uma ONG que promovia atividades sócio-culturais-educativas numa das favelas do Rio de Janeiro: oficinas de artes plásticas, dança, esportes, etc...
Disse então o Ricardo:
- É... e o meu filho não pode ter isso...
O Ricardo é representante daquele povo que sobrevive sem ajutórios quer governamentais, quer particulares. Sobrevive do seu trabalho, com dignidade. No meu tempo de moço esse povo era chamado de REMEDIADO – o que tem remédio ou solução para os problemas da sobrevivência. Esse povo não é problema, é a solução que se almeja para todos.
Contudo, esse povo é quase invisível, não tem luz sobre si, não tem foco nem voz. É a maioria silenciosa que só aparece nas estatísticas do TRE a cada dois anos. Eu gosto de chamá-lo de POVO DA PENUMBRA.
Mas esse povo também precisa de ajuda, – não de bolsa-família ou cheque-cidadão -, mas de escola pública de qualidade, atendimento decente à saúde, transportes eficientes, saneamento, programas de habitação popular e equipamentos de lazer e cultura.
Nada além do seu direito e do dever do Estado. E tenho dito.

19 de janeiro de 2011

OBS: Este texto foi publicado originalmente no fanzine Visão Suburbana, edição de janeiro de 2011.


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