19 de abr. de 2011

A cultura do chafariz
Quem ainda não viu um chafariz numa pracinha ou jardim, bonito, mas que não verte água – não funciona? Pois eu conheço vários. Difícil é encontrar um que funcione!
Esses chafarizes, contudo, foram inaugurados com festas e discursos (e pedidos de votos) e funcionaram durante algum tempo, até ficarem inoperantes e degradados por falta de manutenção. Parece que é o destino dos chafarizes! Mas isso não acontece só com os chafarizes. Os nossos políticos e administradores são ótimos construtores (as empreiteiras adoram), mas, infelizmente, péssimos mantenedores. E não só os de hoje – a cultura do chafariz é antiga.
Só para ilustrar, uma historinha que um passarinho me contou: estando em visita eleitoral a uma favela do Rio, ano passado, e notando que uma quadra esportiva construída há pouco estava fechada por falta de segurança, o então presidente Lula disse ao companheiro governador:
- Cabral, bota um guarda nessa xxxxx e abre ao público, se não nós nos ferramos.
Não sei se a tal quadra está funcionando até hoje, talvez não, mas aqui mesmo em Marechal temos um parquinho infantil que permanece trancado a cadeado. Se era para ficar fechado, por que foi construído? É a cultura do chafariz...
E o jardim do Teatro Armando Gonzaga (de Burle Marx, sabiam?) já foi replantado diversas vezes, a última no início deste ano, mas não resiste à falta de manutenção. Vão lá e comprovem. E não digam que os mendigos pisotearam. Não! Acontece que logo após o plantio sobreveio um estio de mais de mês e as mudinhas morreram esturricadas. Faltou manutenção!
E as duas escadas rolantes da estação Bangu, paradas há meses, quando voltarão a funcionar? Acertou quem respondeu: “Nas próximas eleições”. E os hospitais? E o SUS, que nunca funciona a contento? O SUS não é uma obra, é pura gestão de meios e recursos... Nem falo das calçadas esburacadas e dos bueiros entupidos. Exemplos não faltam e vocês podem constatá-los em seus próprios bairros. É a cultura do chafariz: construir, construir, inaugurar, discursar... Manutenção? Funcionamento? Ora essa! Meros detalhes que não dão inauguração nem discurso.
E para terminar, outra historinha; esta não me contou o passarinho – fui testemunha ocular.
Estava eu varrendo a calçada, antes das oito da manhã, quando passou uma senhora com seu filho passando mal. O garoto sentou-se na calçada, nauseado. “Suspeita de dengue”, disse-me a senhora. “Não o levou ali na UPA?”, perguntei. “Levei, mas não tinha pediatra. Venho de São João de Meriti, fui na UPA de Ricardo, não tinha pediatra e me encaminharam para a de Marechal. Agora vou pro Carlos Chagas”.
Ué?!... As UPAs não eram justamente para desafogar os hospitais?
Será que estamos diante de um novo e imenso chafariz que não verte água?
Abril de 2011
OBS: Esta crônica foi publicada originalmente no blog Visão Suburbana em 18/04/2011