21 de fev. de 2013

Wiranu Tembé e a aldeia Maracanã


Faz pouco mais de um mês assistimos a várias manifestações de rua, no Maracanã, em protesto pela pretendida demolição do prédio onde funcionou outrora o museu do índio.
A demolição fazia parte da reforma do entorno do estádio para a Copa das Confederações e Copa do Mundo de 2014.
Alguns anos atrás, um grupo de índios invadira o imóvel abandonado e construíra ali umas poucas malocas, onde viviam. A isto se chamou aldeia Maracanã.
Essas manifestações me causaram algum espanto: índios, moradores locais e pessoas famosas empenhados contra o Estado, defendendo um pardieiro que pelo visto não tinha qualquer valor histórico ou artístico (se tivesse, estaria tombado) e que além do mais poderia vir a desabar, causando tragédia e consternação.
Os indígenas dramatizaram: entre danças e cantos, a frase em letras garrafais – "De Cabral a Cabral, a matança continua".
O Ministério Público entrou na dança contra o Estado.
O nosso Cabral prometeu construir um Centro de Referência Indígena para acolher condignamente o povo da selva e finalmente dançou também, desistindo da demolição.
Durante uma dança e outra eu pensava: muita celeuma por tão pouco; a proposta do governador parecia equilibrada, os índios teriam para onde ir, e o governo construiria a praça... A praça? Tudo isto para construir uma praça, deixar o espaço livre para circulação dos torcedores? Ora, governador...


 

Olhem que criaturinha mais linda!
É Wiranu Tembé, da etnia Tembé, aldeia Tekohaw, no interior do Pará.
Foi escolhida, entre muitas crianças indígenas, para estrelar o filme "Tainá – a origem", o último filme da trilogia, dirigido por Rosane Svartman. O roteiro original teve de ser modificado, pois nele a personagem deveria ter oito anos e Wiranu tinha apenas cinco. Foi escolhida por se parecer muito com Eunice Baía, a primeira e segunda Tainá. Vi Wiranu pela televisão, durante a pré-estreia do filme, e fiquei encantado com a menina. Se me perguntassem qual a minha estrela de cinema preferida, não teria dúvidas em responder: agora é Wiranu Tembé. Que Yasmin não saiba disso: ficaria com ciúmes!


 
 
E o que tem a ver Wiranu Tembé com a aldeia Maracanã, além do tema indígena?
Muito, caríssimos. Muito.
Quando vi na televisão a indiazinha, pela mão de Rosane, convidando o público para que assistisse ao filme, num tupituguês aprendido durante as filmagens, mas fluente e cheio de graça – me emocionei! É isso, meus caros. O velho se emocionou.
Só então senti aquele pequeno drama da aldeia Maracanã. Senti como foi boa e pertinente a resistência dos índios e das pessoas que estavam com eles. Senti que não foi um pequeno drama, mas um pequeno episódio de uma tragédia imensa, de quinhentos anos! Senti com aquela parte de mim que não pensa. Desci do muro!

 
Não estou fazendo propaganda do filme, mas vale muito a pena ver Wiranu Tembé, essa pequena joia da diversidade humana.