24 de jun. de 2013

A Vênus de barro


 Viajava conosco e sob a responsabilidade de papai, um rapaz da aldeia por nome Manuel e apelido Neca. Na 3ª classe. Fomos visitá-lo. O camarote, coletivo, estava vazio; bisbilhotamos ao redor de seu beliche e descobrimos, sob o seu travesseiro, um objeto deveras estranho: uma estatueta de barro representando uma mulher nua. Imaginem... nua! Além disso, não tinha pernas - só coxas – e um dos braços decepado na altura do ombro! O outro braço sustentava uma bola na mão, ao nível do umbigo. Não tinha cabeça. Que coisa mais esquisita! E sob o travesseiro do Neca...
O rapaz confirmou: não era dele, alguém colocara aquela coisa sob o seu travesseiro. Com que intuito?
O alarme soou, não sei pela boca de quem: “Bruxedo! Só pode ser bruxedo!”. Sim, bruxaria, coisa feita contra o coitado do Neca...
Assim entendidos e no pressuposto de resguardar o amigo Neca, pegamos aquela coisa, fomos todos ao convés e a lançamos ao mar. Assim, nas profundezas, nenhum mal poderia causar.
Mais tarde queixou-se ao Neca, consternado, um companheiro de camarote:
- Desapareceu a minha Vênus, que eu mesmo fiz e levava com todo o cuidado para mostrar ao meu irmão, no Brasil. Guardei-a sob o meu travesseiro e sumiu. Quem poderia ter feito isso? Era uma obra de arte, tinha muito valor para mim, só para mim...
Ouvimos, mudos, as lamentações do infortunado artista...

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Me faça esse carinho

1 comentários:

Jussara Neves Rezende disse...

Coitado do artista que perdeu a obra! rs. Ri muito com essa memória ;)
J. Antônio, seu filho deixou um recado para vc no post que fiz sobre os Cacos.. apareça por lá pra ver, sim?
Abraço, boa semana!

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