12 de fev. de 2015

O valor de uma noiva

Apesar de grande leitor de jornais durante a minha juventude e maturidade, ultimamente quase não os leio. Compro um exemplar, vez por outra, quando encontro uma manchete que me chama a atenção.
Em O Globo de 12/11/2014, pág. 27, encontrei uma história interessante, sob o título “Coração partido”. Na China, no dia 11/11, comemora-se o Dia dos solteiros. É o dia de multiplicar esforços para conseguir um par definitivo, o dia de contratar um casamento. Um jovem chinês, que economizara durante mais de dois anos, resolveu inovar em sua proposta de casamento à namorada, comprando 99 celulares de última geração pelo equivalente a 79 mil dólares. Comprou flores e dispôs os aparelhos, ainda nas caixas, formando um grande coração no piso da praça, reuniu os amigos à volta e pediu que filmassem tudo do alto de um edifício. Chamou a namorada para o centro do coração grande e fez o pedido apaixonado. Recebeu um retumbante NÃO! Virou caçoada na Internet!
Só para lembrar, caríssimos amigos; a China vem aplicando, desde os anos 80, uma política de controle da natalidade conhecida por “política do filho único”, o que está levando a um desequilíbrio demográfico de gênero: no censo de 2.000 constatou-se o nascimento de 119 meninos para cada 100 meninas. E esta tendência só deve agravar-se! As famílias estão praticando o aborto seletivo contra os fetos femininos, quando não infanticídio, abandono nas ruas e orfanatos públicos - que nada mais são que precários depósitos de crianças. Um horror!
E esse descaso com a mulher não é só na China: também na Índia e em outros países do Oriente Médio.
Nessas regiões (e não só), a discriminação, o preconceito, a violência e a negligência contra meninas e mulheres são o traço comum e forte de sociedades patriarcais conservadoras – traço comum e forte oriundo de sociedades medievais, e de mais além, já perdidas no passado, mas ainda presentes em culturas  atuais, em graus maiores ou menores, onde a mulher “tem pouca serventia” na família.
Ah!, meus caros, se mais não digo é por não afligir meu coração! Mas as mídias nos trazem constantemente relatos dessas atrocidades mundo afora!
A mulher tem sim, toda “serventia” na família, no mundo, no universo! A mulher é parceira, cúmplice e sócia majoritária no mistério da vida! E ainda lava louça!…
Mas voltemos à história do jovem chinês que recebeu um retumbante NÃO!
É cada vez mais difícil encontrar uma noiva, uma esposa. E algumas famílias chinesas já importam noivas para seus filhos! Não é de estranhar, portanto, o esforço inusitado e frustrado do jovem chinês. A continuar essa tendência (e continuará), talvez a mulher se valorize pela escassez, no âmbito das velhas e boas leis de mercado: oferta e procura. Por linhas tortas, quem sabe, se endireita a escrita sobre a mulher oriental. Se assim for, aleluia!
Desculpem a analogia com o mercado: a mulher não é mercadoria.
E convenhamos, caríssimos, acho que fez bem a noivinha chinesa não aceitando atrelar sua vida à de um cara tão falto de imaginação! Tanta coisa para ofertar, além de seu amor: sapatos, bolsas, relógios e jóias, mesmo que bijuterias de qualidade, perfumes e cosméticos, doces, que chineses são sempre magrinhos… Vá lá, um ou outro ícone tecnológico… mas 99 celulares! Um refinado idiota!

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9 comentários:

Unknown disse...

Concordo com o senhor! Nem estava sabendo desse ocorrido, mas creio que a menina fez a escolha certa. Ele precisa amadurecer muito. Ou então não era amor de verdade e ele quis "comprar". Excelente o texto, tio!!!!

Unknown disse...

Muito bom meu irmão! "Mandou bem!"

Beatriz Paulistana disse...

Boa noite amigo Antônio!
De fato, assino o que escreveu.
Tenha um ótimo feriado!
Abraços da Bia! ♡

Toninho disse...

Uma bela cronica com uma ilustração interessante neste caso do jovem. Parece que estamos voltando no tempo com relação à mulheres. É uma lástima de como são curtos os passos na elevação da mulher, este ser forte fundamental na educação de todos. A discriminação voraz nestes países precisa ser combatida incisivamente para um basta.
Perfeito amigo.
Um abração

Luma Rosa disse...

Oi, João!
Esse noivo fugiu às tradições chinesas e mereceu o não. Na verdade não foi a noiva que recusou o casamento. Na China eles encaram com seriedade a união de duas pessoas e as vêem como a união de duas famílias. Certamente a família da noiva não quis casar com a família do tal noivo.
A data movimenta o maior mercado consumidor do mundo e chinês adora números repetidos e não à toa o dia ser comemorado no dia 11 e por isso a repetição dos 99 celulares - o número 9 no feng shui remete à abundância. Acredito que foi uma jogada de marketing em torno do aparelho, pois não acredito, por mais que a China esteja ligada ao tecnológico, que o noivo seja tão babaca (rs*)
Apesar da tradição dizer que as famílias precisam se aceitar, muitas mulheres chinesas estão optando pelo não casamento, por causa da violência doméstica que chega a 40% dos casamentos e também porque elas estão representando 74% do mercado de trabalho, desbancando os homens nas qualificações, justo porque estudam mais por causa da concorrência. Por isso os chineses estão procurando mercado externo para trabalho. Os chineses de famílias com condições financeiras de bancar a saída do país ou empregados que aceitam essa condição, estão optando por sair do país.
Para piorar o panorama familiar chinês, o número de divórcios também é bastante significativo.
A conclusão que tiro é que os pobres chineses permanecerão no país e não serão aceitos como candidatos a casamento. A China será um país feminino? Só o tempo dirá.
Os camponeses chineses sabem que é preciso “ter um filho para prepara-se para a velhice”. “Ter uma menina”, diz um ditado chinês, é “cultivar o campo de outros”; para os indianos, é “cuidar do jardim do vizinho”. Ter um filho homem é cuidar da linhagem familiar, pois eles que são os herdeiros diretos. “Se você tem três meninas, está arruinado; três meninos, está salvo!”.
Você está certo em se referir à mulher como um produto de mercantilização, pois é isso que vem acontecendo na China. Se as mulheres chinesas não querem casar, a procura dos homens chineses por mulheres da redondeza vem crescendo consideravelmente, principalmente as pobres vietnamitas.
Você precisa assistir ao filme "Matrubhoomi, um mundo sem mulheres". Ser mais rara não implica, tornar-se mais preciosa.
Sobre esse assunto ainda tenho muito o que escrever, mas esse comentário viraria um post.
:)
Beijus,

Joao Antonio Ventura disse...

Puxa, Luma, quase perdi o fôlego! Que belíssimo comentário, tão pleno de conhecimento da cultura chinesa e das questões da mulher. Foi muito além do meu texto emocional. É uma nova crônica, sim! Vou recomendá-la no post original. Abraços, querida.

Luma Rosa disse...

Wow!! Obrigada!!

Luma Rosa disse...

Oi, João!
Já te convidei pelo facebook, mas venho pessoalmente no seu blogue para lhe fazer o convite: Vem aí a 10ª Edição do BookCrossing Blogueiro!
Boa semana!
Beijus,

Jussara Neves Rezende disse...

Uma delícia ser sua crônica e o comentário da Luma, João Antônio :)
Linda semana nova pra vc!

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